O Brasil com pintura e sem mascaras.

Minha mãe conta que a mãe dela contava que, há muito tempo vivíamos em tempos de grandes conflitos, tempos em que um passo em falso e tudo que um dia fora construído poderia desabar. Acho que essa  época a que ela se  retrata deve ser essa vida de batalhas que vivemos até hoje, presumo.
Nessa época as grandes lideranças deviam pensar sempre dois passos a frente dos demais, mirar corretamente seu alvo para acertar na vitoria ou decair na derrota. O grande Morubixaba( hoje em dia denominado pelos não indígenas como  cacique) pensava em cada um de sua comunidade como se fosse seu filho, cada criança como se saísse do ventre de sua esposa, e que a terra não poderia ter um dono, o que na verdade realmente era o verdadeiro pensamento de uma liderança, pois um Morubixaba recebe a comunidade como sua, com o dever de cuidar de pequenas e grandes coisas. Com o tempo conhecemos outro tipo de Morubixaba, um Morubixaba com pelos em cima dos lábios, óculos arredondados e cachimbos nas bocas. Esses “morubixabas”  eram muitos, como ywypory, verdadeiros vermes da terra.  Nunca sabia-se ao correto qual era a intenção deles, com um sorriso aberto sem nos conhecer, com olhos penetrantes e voz mansa para poder acalmar nossos sentidos de guerreiros. Essa voz mansa funcionou, eis que o Brasil se formou e deixou de usar pintura para usar mascara.
Em uma grande época essa forma com interesses próprios chegou a se infiltrar em nossas tribos, e como uma erva daninha tentou se enraizar em nossos corações, porem , nascera uma nova geração de povos indígenas, e com ela nasceu o conhecimento do mundo dessas lideranças, nascera muitos mestiços dispostos a voltar a liderança que um dia nos fora roubada. Com a força de nossos anciões conseguimos  voltar ao caminho em que o Morubixaba tenha voz não só dentro de nossas comunidades, conseguimos tirar o desejo de pensar só em dinheiro, e assim conseguimos voltar ao caminho de nossa   tradição , onde deixarmos de fazer parte de um passado primitivo e passamos a ser um presente vivo e aculturado.  Há muito que se fazer, a luta é diária, porém se voltarmos as raízes brasileiras em que se escolhia o morubixaba pela força, bondade e coletividade e não pela quantidade de dinheiro no banco, ou através de autodenominação como Liderança, ou até mesmo lideranças que ascenderam através de golpes, conseguiremos resolver os problemas ao invés de acumula-los.
       Awá Mirindju

Ilustração: